Qual o significado de determinadas palavras usadas na música de concerto?
Gênero, forma, estilo…… concerto, sinfonia, sonata, tocata, cantata…. muita gente fica confusa diante de tudo isso.
Para clarear um pouco o assunto, eu escolhi um gênero: o concerto. Podia ser outro? Podia ser sonata? Ou sinfonia?
Sim, mas tanto faz. Ficaremos hoje com o gênero concerto, e vamos ver como ele pode variar no que diz respeito a forma e estilo.
Os primeiros compositores a escrever concertos acabaram convergindo para um padrão muito claro, quer envolve os seguintes elementos.
1) O concerto tem que ser dividido em partes, assim como um romance é dividido em capítulos.
2) O número de partes deve ser no mínimo três.
3) Essas partes devem ser contrastantes, ou seja, se uma é rápida a seguinte deve ser lenta; se uma tem uma característica mais melódica, a seguinte deve ser mais rítmica. Afinal, contraste é essencial para evitar monotonia.
4) E finalmente: no concerto deve haver um instrumento que se destaca, tocando sozinho, sendo acompanhado por um grupo maior de iinstrumentos: orquestra.
Vamos então a um exemplo de Antonio Vivaldi, compositor que teve um papel importantísimo na consolidação deste gênero. Alguns chegam a dizer que ele inventou o concerto, mas a coisa não é bem assim. O concerto foi sendo criado pouco a pouco, graças ao trabalho de vários compositores, e Vivaldi sem dúvida teve um importantíssimo papel nesse processo.
O exemplo de Vivaldi que eu escolhi é seu belíssimo concerto para fagote e orquestra de cordas em mi menor, catalogado com o número de catálogo RV 484.
Ele obedece fielmente o padrão acima: tem três partes, ou movimentos. Eles são contrastantes, o 1º é em andamento moderadamente rápido; o segundo é lento; e o terceiro é definitivamente rápido.
É só clicar no link abaixo e ouvir!
Este então é um típico concerto barroco, totalmente dentro daquilo que convencionou-se definir como o padrão do concerto: um solista acompanhado por um grupo de instrumentistas, 3 partes ou movimentos contrastantes.
Como esse há centenas de outros concertos produzidos pelos compositores da época de Vivaldi.
Mas há as exceções! E é aí que muita gente se incomoda! Mas não tem jeito, meus amigos: o jargão musical é mesmo impreciso, e não acompanha a fantasia e criatividade de determinados compositores.
O próprio Vivaldi, que escreveu muitíssimos concertos dentro do padrão, também produziu exceções. Nós vamos conhecer duas delas.
A primeira é um concerto para flauta e cordas. Ele sai um pouco do padrão porque não tem apenas três, mas 6 movimentos. E o que o faz mais excepcional ainda é o fato dele não ser puramente musical, abstrato. Ele procura descrever uma situação não musical. Vivadi deu-lhe o subtítulo de “La Notte”, ou “A Noite”, em português.
Imagine, caro ouvinte, uma daquelas noites de sono agitadas; aquela em que o seu descanso é interrompido algumas vezes, por um pesadelo ou outro motivo. É isso que Vivaldi procurou fazer nessa obra. Tanto que a um dos movimentos, ele escreveu na partitura “Fantasmas”….
Clique abaixo para ouvir!
Eu disse que este era um concerto um pouco fora do padrão por dois motivos: é em seis movimentos – um número um tanto grande, unusual para o gênero – e também por ser descritivo, e não puramente musical.
Contudo ele é um concerto porque o essencial do gênero está lá: um solista acompanhado por um conjunto ou orquestra, e pelo menos três movimentos de caráter contrastante.
Mas há exceções que nos deixam verdadeiramente confuso: é o caso do concerto que ouviremos agora, chamado Alla Rustica, que poderíamos traduzir como “de caráter rústico”.
Ele tem três movimentos contrastantes – rápido, lento, rápido – mas ele não tem aquilo que é absolutamente essencial em um concerto: um solista, que se destaca e é acompanhado.
Este é realmente, caro ouvinte, um ponto fora da curva, em termos de nomenclatura.
Além de tudo é um concerto bem curto, durando bem menos que o usual – ele tem menos de 4 minutos!
Uma peça que não tem solista, e que portanto não deveria se chamar “concerto”. Contudo, Vivaldi deu-lhe esse nome, e se trata mesmo de uma grande exceção.
Vivaldi é considerado um compositor barroco; barroco, a grosso modo, é um período que terminou por volta de 1750. Depois dele viria o classicismo. No barroco podemos encontrar várias excecões como essas que vimos – uma obra sem solista com o nome de concerto, ou o uso da fantasia associando o gênero a situações não musicais.
No classicismo isso é raríssimo. Esta é uma época em que a música instrumental se tornou mais abstrata, com os gêneros mais precisamente definidos.
No classicismo, o essencial do gênero concerto se manteve: pelo menos três movimentos contrastantes e a presença do solista.
Mas na forma houve uma mudança muito significativa: a construção do 1º movimento feita com dois temas.
Na música instrumental barroca essa idéia não existia. Cada movimento tinha um tema e o compositor trabalhava apenas com ele.
No classicismo os compositores querem criar contrastes não apenas entre um movimento e outro do concerto, mas também dentro do do movimento. Pra isso, têm a idéia de usar dois temas contrastantes, e criar uma seção dentro do movimento, em que eles poderão confrontar esses dois temas, com possibilidades que os compositores barrocos não tinham.
Como exemplo, clique abaixo para ouvir um exemplo: o concerto para oboé e orquestra de W A Mozart.